quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A inominável falta de vergonha

1 comentários

A notícia do possível afastamento da seleção da Sérvia das competições da UEFA, por atos selvajens dos seus adeptos, vem de encontro a uma nota que coloquei no meu editorial desta semana.

"Em 1998, um jogo de futebol em Lordelo terminou com um juíz de linha agredido com um bloco de cimento. Cinco anos de coma depois, o árbitro morreu. 12 anos volvidos, o Supremo decidiu que o clube Aliados de Lordelo tem de pagar 41 mil euros à família da vítima. O clube não tem dinheiro. A junta não paga. A câmara não paga. Resta desejar o encerramento, arresto e venda dos bens em hasta pública rapidamente, para pagar a indemnização à família.
É a única coisa decente a fazer perante a ignomínia que é nunca ninguém ter sido capaz de identificar o responsável por este crime bárbaro. Adeptos assim não merecem ter um clube."

Por falta de espaço acabei por não falar nas declarações do autarca da freguesia que, com a maior desfaçatez, garantiu que o árbitro não esteve em coma, que morreu com SIDA e que a família já teria recebido muito dinheiro à conta desta história. Bem vistas as coisas, estas declarações não me devem merecer mais comentários. Está tudo dito.

(A imagem é do fenómeno hooligan na Inglaterra dos anos 70) 

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O amor continua fodido

0comentários
Para Interromper o Amor
Mónica Marques 
Quetzal

As relações há muito que evoluem. Tempos houve em que a idade era uma questão, ou porque ela era mais velha, ou porque eram muitos os anos a separar os amantes. Também houve tempos em que o dinheiro determinava o sucesso do amor. Já foi a cor da pele também ela um empecilho. Hoje é menos. O género também tem vindo a deixar de ser uma questão, corroendo lentamente os “cascas grossas” que resistem.
Mónica Marques, neste seu “Para Interromper o Amor”, dá um valente pontapé nesta última barreira.
Numa Rolim regressa a Portugal depois de longo tempo no Brasil. Reencontra um casal amigo. Flirta com ele. Flirta com ela. Faz sexo e terapia com os dois. Cada um na sua vez. Passeia por Lisboa. Recorda a juventude nas festas do Avante. Amadurece á nossa frente.
Poderá o ser humano vir a amar independentemente do género do amado? Hoje um amado, amanhã uma amada. Não contente com isso a autora baralha alguns dos mais antigos conceitos da geografia literára. Neste segundo romance, assistimos à torção e contorção de um triângulo amoroso até ele virar uma elipse, na forma e no que esconde ao revelar-se.
Diz a gramática que uma elipse é a omissão de uma ou outra palavra sem que com isso se prejudique o entendimento da frase. Este romance é elíptico, já que faz um jogo de omissões sem que se perca a meada á narrativa. Omite uma história, omite a sua profundidade biográfica, omite todos aqueles países que fazem fronteira com o Bairro Alto.
Mas é nestas omissões que a força da autora emerge. Mónica Marques é uma vítima de Miguel Esteves Cardoso, de Rubem Fonseca e Nelson Rodrigues – ainda que nenhum apareça no livro, ao contrário de José Rodrigues Miguéis ou Pedro Mexia – homens que sempre souberam que o amor é fodido.
Mónica aceita essa condição inelutável do amor e entrega-se a ele através dos seus personagens. É um facto que este romance parece coisa de gajas. Também é um facto que a maior parte dos homens jamais o compreenderão, ainda assim não deixa de ser de leitura obrigatória. Tal como um bom whisky, cada capítulo provoca, no seu final, uma certa sensação de calor enquanto a língua sobe ao céu da boca, estala, e se solta um “aaahhhh”.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Como diz?

0comentários
Nas cerimónias do 5 de Outubro ouvi o PCP a dizer o seguinte "a vitória da Revolução Republicana de 1910 pôs fim a um regime monárquico anacrónico e parasitário e realizou importantes progressos no plano das liberdades e direitos fundamentais (...) as degradantes condições de vida do povo – salários baixos, longas jornadas de trabalho, ausência de políticas sociais – faziam realçar a decadência e o parasitismo do regime monárquico e a exigência do seu derrube".
Por momentos cheguei a pensar que estes pressupostos se aplicassem a tudo, mas pelos vistos não. Um comunicado do PCP, sobre a atribuição do Prémio Nobel da Paz a um chinês que luta pelos direitos humanos, liberdade de expressão e eleições democráticas, veio colocar tudo no seu devido lugar. Os valores chegam à China e contornam a fronteira, aliás como já acontecia nessa fenomenal democracia que é a Coreia do Norte.
A ler:
"A decisão da atribuição do Prémio Nobel da Paz a Liu Xiaobo – inseparável das pressões económicas e políticas dos EUA à República Popular da China - é, na linha da atribuição do Prémio Nobel da Paz de 2009 ao Presidente dos EUA, Barack Obama, mais um golpe na credibilidade de um galardão que deveria contribuir para a afirmação dos valores da paz, da solidariedade e da amizade entre os povos".

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A nossa secreta natureza

0comentários


As Memórias Secretas da Rainha D. Amélia
Miguel Real
D Quixote


Miguel Real é um dos excelentes escritores portugueses da atualidade. Injustamente, continua a não merecer a atenção que merecia e a sua simpatia exige. “As Memórias de Branca Dias”, “O Último Negreiro” ou “O Último Minuto na Vida de S.” são apenas alguns dos títulos deste professor de Filosofia a merecem uma leitura urgente.
Com uma imaginação e sentido de humor muito particulares, Miguel Real cria a história de um volume de memórias da rainha D. Amélia, a mesma que assistiu in loco à morte do marido e do filho no regicídio, roubado dos aposentos de Salazar no dia 25 de Abril.
O livro só acaba por ser recuperado na distante cidade búlgara de Sófia pelo próprio Miguel Real, que em homenagem ao centenário da República o deve depositar na Torre do Tombo.
Estas memórias secretas são só o leitmotiv para o autor fazer uma análise filosófica e psicologista de Portugal e dos portugueses. Depois do ensaio “A Morte de Portugal”, Real volta a fazer um diagnóstico cortante do país que o viu nascer.

Essa coisa do republicanismo

0comentários

Hoje, no Público, Vasco Pulido Valente coloca o dedo na ferida ao falar de umas das várias baboseiras ditas e repetidas à náusea sobre a República o 5 de Outubro. A ler.

"Não houve jornalista ou político da nossa pobre esquerda que não nos tenha vindo falar, a propósito do “5 de Outubro”, dessa misteriosa coisa a que por aí se chama “valores republicanos”. Confesso a minha perplexidade. A que raio de “valores” se referiam eles? (...) O Presidente da República inventou por sua conta os “valores republicanos” que na altura lhe serviam e que não existiram em Portugal, como, de resto, em sítio algum do Oriente ou do Ocidente: o espírito de compromisso, a cultura da responsabilidade, o horror à demagogia e, muito estranhamente, o primado da coesão nacional. E, no Parlamento, os deputados resolveram usar a I República portuguesa como um conto cautelar para uso da II, que se está manifestamente a dissolver. Não seria melhor calar daqui em diante a boca e, já agora, eliminar o feriado do “5 de Outubro”?"

E hoje, o que comemos?

0comentários
Esta é uma semana para duas notas.
A primeira tem de se centrar na eleição para a Federação Distrital do Porto. Por um lado há uma lista de recandidatura de Renato Sampaio, que tem a seu favor a muita experiência acumulada no cargo e como deputado da Assembleia da República. Contra este candidatura joga o facto de ser notória uma perda de força do distrito do Porto no discurso político, bem patente no cancelamento do IC35 e da requalificação da Linha do Douro. Registo ainda para a afirmação de que o PS de Sampaio pretende ganhar as câmaras de Paços de Ferreira, Paredes e Gondomar nas próximas autárquicas. Ao que parece, Renato sampaio considera mais simples ganhar dois bastiões do PSD, num dos quais (Paredes) o PS se mostra destroçado e pouco organizado, do que recuperar uma câmara que foi do PS por muitos anos (Penafiel) e em que os partidos de poder vão ter de apresentar um candidato novo.
Este discurso que desafia qualquer lógica é sintomático desse afastamento da Federação para com o interior.
Do outro lado da barricada está José Luís carneiro, o presidente da Câmara Municipal de Baião. A seu favor tem a juventude (se é que se trata de um valor em si mesma), o conhecimento profundo do mundo autárquico como oposição e poder, bem como a vivência de um interior do distrito muito esquecido. Contra si o autarca tem a sua condição de quase ilhéu no distrito (desterrado em Baião), falta de apoio em estruturas concelhias determinantes, como o Porto e Matosinhos e ser visto como um ponta de lança de um candidato à sucessão de José Sócrates.
Seria de pensar que as dúvidas fossem tiradas pelas moções de estratégia. Por bizarria, li as duas. A de Renato Sampaio, mais extensa, foca atenções no que deverá ser o distrito dentro de 20 anos. Uma região voltada para a floresta, o mar e o turismo. Sampaio traça uma estratégia com vista a um perído de tempo em que já não será líder da distrital e centra pouco as suas atenções no “já” e no “agora”.
Por outro lado, josé Luís Carneiro optou por uma moção mais simples e voltada para a militãncia. Dois terços do documento falam das reformas organizacionais que pretende empreender. Só no final há breves luzes quanto ao presente e futuro do distrito.
Num momento de profundas dificuldades, em que as famílias contam tostões e as empresas vivem com a corda na garganta, os dois candidatos olham para o céu e sonham com amanhãs que cantam.
A Federação Distrital do porto merece mais do que estes dois pré-fabricados ideológicos em forma de moção.
Quem tem salários cortados, perdeu o emprego, vai pagar os produtos mais caros ou verá cortado o rendimento mínimo (e no Porto serão muitos) não quer saber de fóruns para discutir a igualdadeentre os géneros ou o advento da biotecnologia. No Porto, em Portugal, as pessoas querem saber como sobreviver até ao fim do mês e sobre isso os candidatos dizem Nada. Nada sobre o IC35, Nada sobre a Linha do Douro, Nada sobre uma taxa de desemprego a aproximar-se dos 20%.
No meu entender a vitória deverá sorrir a Renato Sampaio com uma vantagem significativa, contudo a vantagem não deverá ser suficiente para coprrer de vez com o autarca de Baião. Um resultado para José Luís Carneiro que se situe acima dos 35% garantir-lhe um futuro promissor no PS/Porto, menos do que isso e a sua carreira sofre um duro revés.(...)

in Jornal Fórum 7-10-2010
 

Marechal na reserva © 2010

Blogger Templates by Splashy Templates