quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O premiado minotauro

 Discothéque
Félix Romeo
Minotauro

Um dos grandes trabalhos dos sucessivos governos espanhóis é a aposta na divulgação da sua cultura. O trabalho desempenhado pelo Instituto Cervantes é determinante no posicionamento dos criadores espanhóis em todo o mundo. Daí que não seja de estranhar que o governo espanhol tenha decidido apoiar a edição de algumas das obras da novíssima chancela da Almedina, a Minotauro. Criada para divulgar a literatura espanhola contemporânea, a Minotauro diferencia-se também pela qualidade da sua proposta gráfica. O carácter inovador da coleção da Minotauro já lhe valeu um Silver Award dos Prémios Europeus de Design e um outro da mais antiga associação de profissionais de design, sedeada em Nova Iorque, o Aiga 50 Books/ 50 Covers Outstanding Books and Book Covers Designed in 2009.
Os cerca de 10 títulos publicados até ao momento mostram a diversidade e pujança da literatura espanhola.
Do muito político “O Pai da Branca de Neve” , de Belén Gopegui, a um mais terno “Bingo”, de Esther Tusquets, há propostas para todos os estilos e temas.
Um dos títulos publicados mais recentemente é um perturbador “Discothéque”, de Félix Romeo.
Trata-se de uma viagem ao mundo das franjas sociais ao volante de uma comédia negra.
Tudo parte de um homem que recorda episódios trágicos de uma guerra travada pelo exército espanhol num abafado protetorado em Marrocos.
Torosantos pai, é um homem profundamente marcado por essa excperiência tentando fazer a sua catarse numa mesa de jogo.
Escusado será dizer que nela perde tudo, até mesmo a vida do seu filho, um artista, que acompanhado por Dalila Love, protagoniza shows de sexo ao vivo.
A partir da apresentação desta dupla extravagante, a narrativa começa a ganhar velocidade e torna-se mais dominadora do leitor.
Na garupa da mota de Romeo, vamos passando por personagens dos quais guardamos os traços mais grossos e extravagantes.
Um comediante sem graça, um empresário do meio pornográfico ou a mulher que esteve prestes a ser uma estrala de cinema e acabou em gentente de pensão.
Há neste romance muitos pontos de contacto com a realidade portuguesa, aliás Portugal é chamado à trama muitas vezes e de diversa forma. Todos os personagens extravagantes deste “Discothéque” bem que podiam viver por aqui, podiam ter estado na guerra na Guiné, podiam frequentar bares de alterne em Amarante e pensões manhosas nos Anjos ou no Conde Redondo.
Este é um romance com tudo o que é necessário para se tornar muito nosso. Tal comonos apropriamos de derminadas bandas pop/rock estrangeiras porque trazem consigo uma certa melancolia muito nossa (Tindersticks ou The National), também este romance pode e deve por nós ser adoptado.

 Julio Cortázar
Papéis Inesperados
Cavalo de Ferro

Termino com uma referência à edição dos textos inéditos do argentino Julio Cortázar, “Papéis Inesperados”, da Cavalo de Ferro.
Este imponente volume revela poemas, crónicas, pequenas histórias ou memórias de amigos. “No amor qualquer monólogo se nega a si próprio, por razões paralelas a todo o diálogo é de alguma maneira um monólogo noutra dimensão do ser; no amor, falar é criar espelhos, entrar nesse jogo de facetas biliosas que devolvem imagnes vindas de um torvelhinho de cinzas e falenas”, é assim que arranca uma espécie de prefácio a um livro de Maurício Wacquez, mas também podia ser o retrato deste volume. Um enorme monólogo que se apresenta como jogo de espelhos, que se alimenta das cinzas de romances e que dá a conhecer pormenores da vida e da obra de um autor que bebeu em mestres como Edgar Allan Poe, também ele muito presente nos ambientes de Félix Romeo.
Se ainda não conhece Cortázar, urge que procure “A volta ao dia em 80 mundos” ou então o fabuloso “Rayuela”.

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