quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Uma boa história chega?


O Bom Inverno
João Tordo
D. Quixote
Há um ano, João Tordo deslocou-se a Penafiel para receber o prémio José Saramago das mãos do próprio.
Na cerimónia de entrega do prémio, saramago, um escritor que sempre se fez valer da escrita e das alegorias para reflectir etica e politicamente sobre a sociedade, advertiu o jovem autor para a necessidade de a literatura se constituir como algo mais do que uma boa história.
Eu discordo de José Saramago, raramente há boa literatura sem uma boa história. Infelizmente Portugal tem muita “literatura” sem história. A preocupação dos autores portugueses com a experimentação formal criou um fosso grande entre leitores e obras. A menorização dos escritores de histórias é um dos desportos mais praticados no meio intelectual nacional. A meu ver é um erro. O romance brasileiro vive hoje momentos muito mais felizes porque largou alguma da tralha formalista. Rubem Fonseca, um dos maiores e melhores escritores de língua portuguesa, é um desses excelentes escritores de histórias. Como ele, há dezenas de outros grandes talentos do outro lado do Atlântico. João Tordo insere-se nessa linhagem de escritores que querem construir uma boa história, que dê que pensar, que suscite reflexões, mas que não deixe de ser uma boa história.
“O Bom Inverno” é um desses casos, sucedendo sem mácula a “Três Vidas” ou “Hotel Memória”. Tordo conta a história de um romancista português talhado à imagem e semelhança do “Dr House” (até na bengala) que depois de participar num encontro de escritores em Budapeste, se junta a um escritor italiano, à namorada deste e a uma agente literária portuguesa, para rumar à propriedade de um produtor cinematográfico americano, em Sabaudia, Itália.
A partir daqui o romance torna-se num thriller envolvente e muito bem conseguido. Há crimes, há suspeitas e há pistas e ligações que surpreendem o leitor. Mas acima de tudo há a certeza de uma boa história, bem escrita e estruturada. O que é que se pode pedir mais de um livro. João Tordo não quererá, certamente, ser a reencarnação de Joyce ou da portuguesa Maria Gabriela Llansol. João Tordo quer apenas escrever as suas histórias, fazer as suas catarses, enfrentar os seus fantasmas, ainda por cima consegue entregar umas boas horas de leitura envolvente. Se isto não é literatura, eu não sei o que é literatura.


Menos que Zero
Bret Easton Ellis
Teorema
Por fim, a sugestão de regresso a uma casa onde já fui muito feliz, a casa de Bret Easton Ellis. Nenhum filho da geração de 70 é um ser decente se não tiver lido “Menos que Zero” o romance de estreia deste escritor norte-americano. Reeditado a propósito do novo romace de Ellis, “Menos que zero” volta a acenar com todos os seus encantos intactos. Lá continua a estar a geração do “dolce far niente” regado a álcool, sexo e drogas. Uma geração que mais tarde verá a ascensão dos Yupies que protagonizam “O Psicopata Americano”, também de Bret Easton Ellis.
Chegados a 2010, o cronista destas gerações recupera os personagens de “menos que zero” e mostra como eles cresceram e anfretaram os anos, a isso chamou-lhe “Os Quartos Imperiais”.
Estes romances bem que podiam ser uma espécie de auto-retrato de Ellis, daí que valha a pena mergulhar nesta sincera polaroid de uma certa América.

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