quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Infelizes à sua maneira

                                    Desfile de Primavera
                                          Richard Yates                     
                                             Quetzal
Num tempo em que a crise parece ter tomado conta das nossas vidas, por que não olhar para a literatura pós-crise. Estou a falar da literatura de Richard Yates, o norte-americano que melhor retratou a América pós-crash bolsista de 1929.
Depois de ter publicado “Jovens Corações em Lágrimas” e “Perto da Felicidade”, a Quetzal editou agora “O Desfile de primavera”.
Voltamos ao cenário favorito de Yates, a América dos anos 30/40 e à vida de uma família de classe média-baixa, marcada por um divórcio.
Duas irmãs, Sarah e Emily, concentram as atenções, desde os tempos de meninas, em que deambulavam de terra em terra com mãe, à morte do pai e ao descobrir do amor e da sexualidade.
Yates conta, como poucos, a o dia a dia das vidas cinzentas e medíocres. “O Desfile de primavera”, á semelhança dos antecessores, traça o retrato nu da luta pela dignidade e ascensão social, mas também os sonhos desfeitos e a derrota, lenta e desgastante, imposta pelo quotidiano.
Tolstoi, na abertura do Anna Karenina, dizia que “todas as famílias felizes são iguais. As infelizes  são-no cada uma à sua maneira”. Yates parte deste pressuposto para desmontar essa ideia peregrina da vida normal. Sarah e Emily vão trilhar vidas normais marcadas pela anormalidade do alcoolismo, do casamento falhado, do desemprego e do sexo fortuito.  
Se o título do romance remete para a primavera, será justo dizer que o universo de Richard Yates é muito mais Outonal que primaverial. Este é uma das obras fundamentais de um autor que andou demasiado tempo longe da edição portuguesa.

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