quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O amor continua fodido

Para Interromper o Amor
Mónica Marques 
Quetzal

As relações há muito que evoluem. Tempos houve em que a idade era uma questão, ou porque ela era mais velha, ou porque eram muitos os anos a separar os amantes. Também houve tempos em que o dinheiro determinava o sucesso do amor. Já foi a cor da pele também ela um empecilho. Hoje é menos. O género também tem vindo a deixar de ser uma questão, corroendo lentamente os “cascas grossas” que resistem.
Mónica Marques, neste seu “Para Interromper o Amor”, dá um valente pontapé nesta última barreira.
Numa Rolim regressa a Portugal depois de longo tempo no Brasil. Reencontra um casal amigo. Flirta com ele. Flirta com ela. Faz sexo e terapia com os dois. Cada um na sua vez. Passeia por Lisboa. Recorda a juventude nas festas do Avante. Amadurece á nossa frente.
Poderá o ser humano vir a amar independentemente do género do amado? Hoje um amado, amanhã uma amada. Não contente com isso a autora baralha alguns dos mais antigos conceitos da geografia literára. Neste segundo romance, assistimos à torção e contorção de um triângulo amoroso até ele virar uma elipse, na forma e no que esconde ao revelar-se.
Diz a gramática que uma elipse é a omissão de uma ou outra palavra sem que com isso se prejudique o entendimento da frase. Este romance é elíptico, já que faz um jogo de omissões sem que se perca a meada á narrativa. Omite uma história, omite a sua profundidade biográfica, omite todos aqueles países que fazem fronteira com o Bairro Alto.
Mas é nestas omissões que a força da autora emerge. Mónica Marques é uma vítima de Miguel Esteves Cardoso, de Rubem Fonseca e Nelson Rodrigues – ainda que nenhum apareça no livro, ao contrário de José Rodrigues Miguéis ou Pedro Mexia – homens que sempre souberam que o amor é fodido.
Mónica aceita essa condição inelutável do amor e entrega-se a ele através dos seus personagens. É um facto que este romance parece coisa de gajas. Também é um facto que a maior parte dos homens jamais o compreenderão, ainda assim não deixa de ser de leitura obrigatória. Tal como um bom whisky, cada capítulo provoca, no seu final, uma certa sensação de calor enquanto a língua sobe ao céu da boca, estala, e se solta um “aaahhhh”.

0 comentários:

Enviar um comentário

 

Marechal na reserva © 2010

Blogger Templates by Splashy Templates